Gostaria muito de compartilhar com todos esse conto do genial Machado de Assis, que foi trazido por Renata Pitombo, para uma discussão sobre a construção simbólica da indumentária e sua importância na construção da personalidade humana. Tivemos o luxo de ter uma leitura dramática com Antônio Fábio, com direito a arrepio no final. Mas, mesmo sem a interpretação forte do ator, o texto é muito bom. Então, com vocês: O ESPELHO.
(...)"O alferes eliminou o homem. Durante alguns dias as duas naturezas equilibraram-se; mas não tardou que a primitiva cedesse à outra; ficou-me uma parte mínima de humanidade. Aconteceu então que a alma exterior, que era dantes o sol, o ar, o campo, os olhos das moças, mudou de natureza, e passou a ser a cortesia e os rapapés da casa, tudo o que me falava do posto, nada do que me
falava do homem. A única parte do cidadão que ficou comigo foi aquela que entendia com o exercício da patente; a outra dispersou-se no ar e no passado. Custa-lhes acreditar, não?"
(...)"porque no fim de oito dias, deu-me na veneta olhar para o espelho com o fim justamente de achar-me dous. Olhei e recuei. 0 próprio vidro parecia conjurado com o resto do universo; não me estampou a figura nítida e inteira, mas vaga, esfumada, difusa, sombra de sombra. A realidade das leis físicas não permite negar que o espelho reproduziu-me textualmente, com os mesmos contornos e feições; assim devia ter sido. Mas tal não foi a minha sensação. Então tive medo; atribuí o fenômeno à excitação nervosa em que andava; receei ficar mais tempo, e enlouquecer."
(...)
Link: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1948
Beijos
Clara Ribeiro
Beijos
Clara Ribeiro
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